Cenários e projeções econômicas para 2022
Toda projeção econômica, na sua capacidade de construir cenários de previsibilidade, começou a ficar comprometida a partir dos cenários e contextos da pandemia de Covid-19. Na atualidade, projeções se elaboram se prevendo que sua capacidade de outorgar confiança depende de circunstâncias externas ao mercado econômico e a variáveis próprias das atividades que lhe são próprias. São os vaivéns da pandemia de Covid-19 os que atuam como fatores contingentes ao jogo de projeções econômicas na atualidade.
No entanto, evidentemente, continuam se realizando projeções. Vemos como, segundo o Fundo Monetário Internacional - FMI, a economia mundial que se recuperou em 2021, deverá manter o crescimento para o ano de 2022. Estima, também, que o desempenho econômico será positivo em 4,9% neste ano, depois de registrar uma alta de 5,9% em 2021. Já o Banco Mundial - BM, diferentemente, prevê uma alta de 4,3% em 2022. A projeção do FMI para a economia brasileira no próximo ano, no entanto, é bem mais modesta: crescimento de 1,5% no Produto Interno Bruto – PIB.
O crescimento entre os países deve ser desigual, conforme prevêem o FMI e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento - BIRD porque, em alguns lugares, o percentual da população vacinada ainda é muito baixo, especialmente nos países mais pobres e isto impacta na retomada das atividades econômicas. Com relação à inflação, conforme Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) destaca, seguirá elevada no próximo ano de 2022, em um cenário que só poderá mudar com a normalização das chamadas cadeias produtivas. Isto significa que a inflação está ligada à oferta de produtos e mercadorias, sendo um exemplo a atual falta de chips eletrônicos, encarecendo os produtos que dependem da sua existência. O mesmo aconteceu com o aumento dos preços dos alimentos recentes. Por isso, importa compreender que, ao contrário do que a maioria da população acredita, a atual pressão inflacionária se caracteriza como um ‘choque de oferta’, e não de ‘excesso de demanda’, problema que ocorre em nível global e, por essa e por outras razões, também afeta o Brasil.
O aumento nas cotações das matérias-primas, especialmente petróleo e grãos (commodities) no mercado internacional, associado à desvalorização do real, tem pressionado os preços domésticos, dos combustíveis e de outros produtos. Ao desalinhar as cadeias produtivas globais, a pandemia de Covid-19 provocou escassez de insumos no mercado internacional. Com a falta de matérias-primas e a reabertura da economia, os preços ficaram mais caros em diferentes regiões. Nos Estados Unidos, a inflação chegou a 6,2% em 12 meses, a maior desde novembro de 1990.
Com referência ao cenário brasileiro de 2022, o governo mantém uma perspectiva bastante otimista, após um crescimento de 5% no PIB em 2021, o maior em 11 anos. Para 2022 projeta um crescimento do 2%, segundo consultoras do Banco Central. Por outro lado, os mais pessimistas prevêem queda do PIB de até 1%. Considerando estes dois cenários previstos, o ponto médio de expectativas de crescimento seria de apenas 0,58% para 2022. Mas um dos fatores mais preocupantes é a situação fiscal, piorando expectativas para a dívida pública. Segundo a XP Investimentos, no fim de outubro de 2021 a dívida bruta do governo equivalia a 82,9% do PIB, mas deverá subir para 83,5% até fim de 2022, continuando em alta nos anos seguintes, passando de 95% antes de 2030. Trata-se de um verdadeiro problema para a gestão nas contas públicas e para a atração de investimentos, bem como para a própria saúde da economia no geral.
Antes das mudanças fiscais (teto de gastos e regras dos precatórios), a XP previa que a dívida pararia de subir por volta de 2027 e recuaria imediatamente a aproximadamente 87% do PIB em 2030. Aumento no déficit primário e alta de juros como reação do Banco Central são as imediatas consequências desta dinâmica. Este cenário pode fazer com que o novo presidente que toma posse em janeiro de 2023 seja obrigado a promover mais ajuste fiscal e conter mais os gastos, sendo um problema que se empurra de um ano para outro.
O Banco Central em meio a esta situação delicada deve fazer algo para combater a alta dos preços. Mesmo com a alta nos juros e as possibilidades de a Selic chegar aos dois dígitos em 2022, a convergência da inflação para a meta deve ficar apenas para o ano seguinte, tarefa nada fácil de ser realizada pelo Banco Central. Isto, ao mesmo tempo, nos faz retornar ao cenário de incertezas que termina afetando o consumo e o investimento, agravado pelo contexto da pandemia. Segundo economistas do Bradesco, as tensões fiscais, as pioras nas condições financeiras e o endividamento, a desvalorização do real, desenham um quadro pouco alentador; cenário que influencia para o crescimento econômico e a inflação.
Fora o aumento da incerteza fiscal, a retração econômica e o possível aumento do desemprego, considera-se que uma série de eventos, principalmente na primeira metade do ano de 2022, devem assegurar ventos a favor na economia brasileira: uma lenta recuperação do mercado de trabalho, a forte expansão das safras agrícolas e a normalização das restrições de oferta na indústria, dependendo dos cenários que permite a pandemia de Covid-19. O crescimento da demanda externa e os preços internacionais dos commodities devem ficar apenas um pouco abaixo dos atuais níveis. O real, por sua vez, deve continuar se desvalorizando em relação ao dólar. Os efeitos de um câmbio alto no preço do dólar, das mudanças no teto dos gastos e a persistência da inflação exigirão, de acordo com Banco Central, implementar uma taxa de juros mais alta para reduzir o ritmo do aumento dos preços.
Mas 2022 está marcado por ser um ano eleitoral, e novas incertezas dificultam tomada de decisões sobre a economia. A preocupação parece focada em avaliar posicionamentos que não representem mais gastos acima do orçamento e sem contrapartidas, em um ambiente fiscal fragilizado. As expectativas do crescimento econômico podem estar abaladas se algo assim se concretiza, enquanto a agenda da reforma administrativa poderia ajudar a aliviar a pressão fiscal e aliviar as condições financeiras. Tudo, isso sim, neste contexto de incerteza econômico pela pandemia de Covid-19.
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Marcia Cezar Gadea
Economista e Dra. em Ciências Sociais